Intertextualidade: conheça os diferentes tipos na literatura

Estudo
28 | 08 | 2024

Os tipos de intertextualidade se manifestam quando, ao ler um livro, tem-se a sensação de que ele evoca outra história. Esses fenômenos ocorrem quando um texto faz referência a outro.

Com uma diversidade que vai desde referências sutis até adaptações diretas, eles estabelecem conexões entre textos, enriquecendo a experiência de leitura. Compreender essas conexões aprofunda a apreciação literária e ajuda a perceber detalhes que poderiam passar despercebidos.

Neste conteúdo, você aprenderá o que é intertextualidade e quais são seus tipos. Acompanhe!

O que é intertextualidade?

Intertextualidade é uma conversa entre textos, na qual um livro ou um artigo, por exemplo, faz um comentário sobre outro. Essa relação pode ser explícita, quando a referência é direta e facilmente identificável, ou implícita, sendo mais sutil e não citando diretamente o conteúdo original, o que torna mais difícil perceber os elementos da referência.

Além disso, existem diferentes tipos de intertextualidade, como paródia, paráfrase, epígrafe, citação, entre outros. 

Entenda a classificação e exemplos de intertextualidade

Paródia

A paródia, com sua abordagem muitas vezes divertida e criativa, é um dos tipos de intertextualidade mais explorados por humoristas. Ao citar obras conhecidas, ela promove uma crítica irônica que altera o sentido do texto original, recriando-o de forma única, porém ainda reconhecível. Jô Soares, renomado humorista brasileiro, foi um mestre nessa técnica. Conheça a seguir um trecho de uma de suas paródias.

Original de Gonçalves Dias

“Minha terra tem palmeiras,

Onde canta o Sabiá;

As aves, que aqui gorjeiam,

Não gorjeiam como lá…”

Paródia de Jô Soares

“Minha Dinda tem cascatas

Onde canta o curió

Não permita Deus que eu tenha

De voltar pra Maceió…”

Outros casos famosos de diferentes paródias na televisão e no cinema são Os Simpsons e filmes que retratam versões similares às cenas originais, mas de forma humorística e, muitas vezes, irônica, como Máquina Quase Mortífera.

Paráfrase

Em síntese, a paráfrase consiste em reescrever um trecho de texto com suas próprias palavras, mantendo a ideia original e referenciando a fonte.

Essa técnica é relevante ao explorar os tipos de intertextualidade, pois permite expressar uma interpretação pessoal, respeitando sempre a autoria.

Confira um exemplo!

Texto original — “A educação é fundamental para o desenvolvimento intelectual das crianças”.

Paráfrase aplicada — “O desenvolvimento intelectual das crianças depende significativamente da educação”.

Alusão

A alusão é um dos tipos de intertextualidade que, embora pareça simples, carrega consigo uma grande responsabilidade em relação ao que é citado no texto. Certamente, você já se deparou com um artigo ou assistiu a um documentário que faz referência a outra obra, muitas vezes mencionando o nome do autor, como:

“Seu discurso era tão convincente que parecia saído direto das páginas de Shakespeare.” Neste caso, a alusão é feita às obras de William Shakespeare, sugerindo que o discurso era expressivo e dramático, como muitos dos diálogos encontrados nas peças do autor inglês.

“Ele tinha uma força tão grande que parecia um Hércules.” A alusão é feita a Hércules, o herói da mitologia grega conhecido por sua força sobre-humana. Comparar alguém a ele sugere que essa pessoa também possui uma força extraordinária.

Hipertexto

O hipertexto é uma ferramenta que possibilita a exploração de vários outros conteúdos a partir de um único. Bastante comum na internet, é possível encontrar diversos links em um artigo que está sendo lido e, ao clicar sobre eles, novos textos são abertos. Esse é mais um exemplo que ilustra os tipos de intertextualidade.

Imagine um artigo online sobre viagens e, ao longo do texto, o autor menciona uma ilha remota no Pacífico Sul e inclui um link para mais informações do lugar. Ao clicar, o leitor é direcionado para uma página com mais detalhes do local, como sua história, atrações turísticas, recomendações de hospedagem e muito mais.

No exemplo citado, o texto principal serve como o ponto de partida e o link é um exemplo de hipertexto. Ele permite ao leitor navegar para outros conteúdos, o que amplia a sua experiência de leitura sobre o tema.

Pastiche

Pastiche é quando uma criação pega emprestado elementos de outras obras, mas sem aquele tom crítico da paródia. Portanto, vale reforçar que são dois tipos de intertextualidade diferentes.

O pastiche é versátil, pois é encontrado em diversos campos artísticos e culturais. Desde a pintura, passando pela música até chegar nos vídeos virais da internet. Confira dois exemplos!

Um músico contemporâneo decide criar uma música que homenageia o estilo do famoso compositor clássico Johann Sebastian Bach. Para isso, ele utiliza instrumentos barrocos, como cravo e violino, e segue a estrutura e os padrões harmônicos típicos das composições de Bach.

No entanto, ele adiciona elementos modernos, como uma batida de bateria sutil e arranjos de cordas mais complexos, para criar uma mistura entre o estilo clássico e contemporâneo.

O pastiche é claramente produzido pelo músico ao imitar o estilo musical de Bach, enquanto também adiciona sua própria interpretação e influências contemporâneas à composição.

Segundo exemplo:

Texto original — “O céu estava tingido com tons de rosa e laranja enquanto o sol se punha lentamente no horizonte.”

Aplicação do pastiche — “O firmamento se encheu de uma paleta celestial, onde o rubor do rosa se misturava com o calor do laranja, pintando uma tela efêmera à medida que o sol dava seu último suspiro sobre a linha do horizonte.”

Neste exemplo, o pastiche imita o estilo descritivo e poético do autor original, ampliando-o com uma linguagem mais elaborada.

Epígrafe

A epígrafe é uma citação encontrada logo no início do texto. Muito utilizada em monografias, artigos e resenhas, a citação de outro autor adianta o assunto que o leitor encontrará naquele conteúdo.

Exemplo simples de epígrafe aplicado em conteúdo de política:

“A política é a condução dos assuntos públicos para o bem comum.” — Aristóteles.

Citação

Sem dúvidas é um dos tipos de intertextualidade mais conhecidos e usados. No caso da citação, as palavras de outro ator são incluídas no texto sem nenhuma alteração. Entretanto, elas devem aparecer entre aspas, além da identificação do autor original. Quando não referenciado corretamente, o conteúdo é considerado plágio.

Exemplo de citação:

Segundo Oscar Wilde, “a coisa mais fácil do mundo é viver em conformidade com as opiniões do mundo; a coisa mais difícil é agir de acordo com as próprias convicções, apesar do mundo”.

Tradução

A tradução é outro tipo de intertextualidade bastante conhecido. Afinal, o próprio nome já explica o seu significado, que é transformar palavras de um idioma para outro.

Vale ressaltar que ela é caracterizada como intertextualidade, pois durante o processo de tradução, é possível que palavras exatas não sejam encontradas. Por isso, ocorre a recriação do texto original.

A obra “As Mil e Uma Noites” é um exemplo clássico de intertextualidade de tradução. Originária da literatura árabe, essa coleção de contos foi traduzida para várias línguas ao longo dos séculos. As diferentes versões e traduções influenciaram a literatura mundial, sendo referenciadas e adaptadas em obras como “Aladim” e “Ali Babá e os Quarenta Ladrões“.

Bricolagem

A bricolagem, último tipo de intertextualidade da lista, refere-se à criação de um texto a partir de fragmentos de outros conteúdos. Nesse sentido, a obra resultante é uma conexão de diferentes ideias e autores. A habilidade de combinar elementos de diversas fontes de forma única pode resultar em um excelente resultado.

Exemplo de bricolagem

A obra original é Amor é Fogo que Arde sem se Ver, do poeta Luís de Camões, e a música Monte Castelo, da banda Legião Urbana. O resultado foi:

“É só o amor! É só o amor

Que conhece o que é verdade

O amor é bom, não quer o mal

Não sente inveja ou se envaidece

O amor é o fogo que arde sem se ver

É ferida que dói e não se sente

É um contentamento descontente

É dor que desatina sem doer”

Você explorou com profundidade a definição e os exemplos dos tipos de intertextualidade. Descobriu como a paródia pode tanto homenagear quanto criticar obras anteriores, enquanto a paráfrase permite reinterpretá-las sob uma nova luz.

Além disso, compreendeu o poder das alusões em enriquecer textos e como o hipertexto expande esse conceito para além do papel.

Gostou do conteúdo e quer ficar por dentro de outros aprendizados? Acesse as redes sociais da Crescer Sempre por meio dos seguintes links: Instagram | Facebook | LinkedIn.

Créditos da imagem: Freepik.

Deixe seu comentário

Leia também

Assuntos Relacionados